quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Primavera

Partiu como um bicho voador.
E até hoje ouço os zumbizar das suas asas.
E até hoje sou um copo derramado,
Revirado de poesia e caos.
Esperando a próxima chuva.
Um disco arranhado no mesmo verso.
Poeta incompleto perdido na folha em branco.
Banco de praça à mercê dos pombos.
Pondo as mãos, e nada no bolso.

Partiu de pronto, destrambelhada.
E até hoje ouço o tilintar das suas pulseiras.
E até hoje sou rua deserta,
Seta que não acerta o alvo.
Sou calvo, carro, pneu careca.
Me acerta, me leva pra sua meta.
Deixe que eu me meta.
Me arruma.
Me joga contra o peito.
Faça de mim um homem desfeito.
Me leva.
Me lava.
Me entrega.
Me lança na tua boca salivada.
Que eu morro feliz nas tuas águas.

Partiu e deixou o cheiro de incenso.
E até hoje a fumaça revela.
E até hoje sou aquele que espera.
E a vida vai.
O tempo joga.
A rotina exaspera.
E até hoje eu preparo a terra,
Sou flor fora do tempo,
Esperando a primavera.