sexta-feira, 2 de agosto de 2013

não tem mistério
a vida
é toma lá
da cá
quer ir embora vá
mas não me leve

tão a sério

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

                 q u a n t o
                      m a i s
                         d i n h e i r o
           m e n o s
v i d a
      
  c h e g o u
                   o
                       s o n h o
     
         e i s
u m
        n o v o

p a r a d i g m a

á g u a
          d e r r a m a n d o  
                       d o
                             o l h o 
s a l 

 a g o s t o

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Elegia



apesar dos desencantos
onde sempre acaba o fôlego
o poder de sonhar é tão forte
que os meus sapatos nunca descansam
tropeços e cansaços são parte do jogo
me sopra um velho amigo
viver é uma estrada vazia
eu vos digo
na margem se colhe o vento que se desprende
a exaltação e o sustento
o que há adiante são minhas mãos sobre a terra fria
as pétalas das flores, as nuvens do céu, as horas do dia
para quê?
a vastidão do meu ser não se encerra em mim
converge noutros vazios
e eu não volto mais

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Banda do mar





Sou, de feita, o mar que irrompo.
Navego demasiadamente sedento por entre as rugas da água e a carícia do vento.
Sou eu que cresço e arrebento.
Sou o que tomo nas mãos as tuas vestes.
Não tenho parte alguma nesse todo, mas tudo, em maresia, vive dentro de mim.
Eu quero a lida eterna da navegança .
Beijar o sal na tua boca.
Cantar o canto do teu povo e partir pra dentro de mim.
Um abraço líquido em que me afogo.
Na banda do mar que abri...

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Uns


Uns dizem que sim.
Balançam a cabeça positivamente.
Servilmente.
E caem na dança, no engodo da salvação.
Do corpo, da alma, do medo.
Socorro.

Uns dizem que não.
Sacodem todo o esqueleto em negativa.
Altivamente.
E saem nas ruas, encharcam as praças, tomam os palácios.
De corpo, de alma, de amor.
Estardalhaço.

Vai devagar com o andor que o santo é de barro.
Vou.
Não vou!
Devagar eu vou com a dor.
Sorvida lenta, em pequenas doses e grandes certezas.
Cozida em fogo baixo tipo Maniçoba.
Tipo meu coração endurecido, desencarnado, desfibrilado em uma panela de pressão.

Uns dizem que não.
Eles rechaçam, se rebelam, se reciclam, se rejuntam e se vão.
 Pelas brechas, frestas, buracos de estio na nuvem cinza da rotina.
Eles brilham.
Eles sobem e, lá no alto, bem no alto, eles chovem.
Eles espalham o não.
O não escorre.
Pelas selvas, pelas catástrofes, pelo caos da cidade, por todas as certezas do sim.
Eles invadem.
Por você, por mim.
Pelo fim.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Simpatia




A onda passou e todo o resto derramou-se.
E toda planta esparramou-se nas minhas paredes.
O verso triste do meu poema escorreu nos sulcos da minha cara.
Bonito e histérico, grito.
Amor, vem comigo!
Lúcido, calmo e sucinto.

Teu olho me olha no instante oposto, simétrico.
Na minha vertigem.
Côncavo e convexo.
Pensamento certo.
Progresso para os nossos.
Desistir é para os fracos.
Pelo amor, pela evolução, faço votos.

Tô de volta à velha escola,
A boa esquina da prosa.
À tôa.
Feito menino desgarrado da mão, da mãe.

Vida, dádiva sorvida entre um trago e um gesto.
Mão nos cabelos, cabeço do mundo, coração no compasso.
É de verso e sangue a minha loucura.


Na espuma do tempo o vento escorrega.
Cabe tudo, só não o lamento.
Saudade é rua cheia, carnaval na varanda de casa.
Passa:
 avenida, pés descalços, calçadas.
Pá virada.
Encheu, derramou.
Lavada a alma, agora me vou.