quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Invenção


Quem inventa o amor, o faz em desvario, e por vezes sofre ao vê-lo mínimo, parco e desbotado.
Quem inventa uma felicidade, desespera-se ao vê-la falsa e sem sabor numa tarde vazia.
Quem inventa um conto, aumenta um ponto, dá nó em pingo de éter e tem o que dizer quando for avô (a).
Quem inventa a si mesmo surpreende-se ao ver-se vistoso e revigorado.
Quem inventa de ser o que não é, sorri ao não reconhecer-se no espelho, mas logo dá com a cara no chão e os burros n´agua.
Quem inventa a dor, frustra-se ao perceber que sua dor é menor que a do outro, e que as do mundo desatinam a doer sem medida.
Quem inventa o dia, um pôr-do-sol lilás, borboletas azuis num voo suave, uma orquídea no meio da mata;
Quem inventa a mata e as árvores frondosas com bichos nas galhas;
Quem inventa a paz, a liberdade, o desapego;
Quem inventa Deus e o Diabo numa terra sem sol;
Quem inventa a paixão, o contrário, a solidão;
Uma praia deserta e a gente deitado nela;
A canção, uma oitava acima de todos nós;
Quem inventa uma nova saída, um lugar para boas ideias;
Quem inventa de ser teimoso e acha o caminho das pedras;
Quem inventa de morrer e passa pro lado de lá;
Quem inventa o mundo, o absurdo de acharmos que somos únicos;
Quem inventa eu, você, outrem, outrora, a hora, agora;  
Quem inventa é sábio. Tem alma de criança e espírito livre.
Porém, quem nada inventa, nada vive.
Quem nada inventa, já morreu. 

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Somos um

Ela:
Nosso amor é esse tal, não grita nem pede esmola, não sente fome porque se sacia naturalmente, é amor de casa, de ouvir mazelas e acalmar o medo. É amor construído com barro batido sobre terra firme. É aquele amor da vitamina de banana, do jeito de cortar o abacaxi pro outro, do cuidado, do pano morno na testa dos dias de enxaqueca. É sutil, é de sussurros, é de verdade.

Ele:
É amor tecido de sutilezas, bem nascido e, por ser assim, complexo. Mas a complexidade está na sua engenharia, na trama forte das nossas ligações, no cingir do dia-a-dia, na tez clara da nossa admiração e na reciprocidade dos sorrisos. Somos partes um do outro e juntos parte de um todo. Esse todo é o que a gente não consegue colocar em palavras, aquilo que se mede pelo brilho dos olhos e pelo peso das lágrimas. Nosso amor é esse tal, que não se explica, esse que pula, pulsa, escorre, transborda. É a nossa arquitetura, nosso altar decorado de orações, nosso zelo. Esse tal amor é o nosso amor, é transcendental.