quarta-feira, 31 de agosto de 2011

What´s happening?

Agosto parece não querer terminar. Foram cinco fins-de-semana, quartas-feiras pegajosas e dias de frio. Faltou grana e fôlego e sobrou motivo para reclamar. - Quantos dias a mais? Alguém me perguntou. Não saberia dizer, ando meio alheio ao calendário. De acordo com meu celular, hoje é sexta 25 de abril e agora são 6:59 da manhã. Se fosse verdade, estaria oito dias após meus 26 anos, numa ressaca gostosa de Sarau, com hálito de tabaco e vinho tinto. A luminária sobre a louça da mesa de centro ainda daria luz a Fernando Pessoa e Hilda Hilst. Enquanto Anike recitaria Caio Fernando, com versos embriagados e ranger de dentes. Grau, em ré maior, comporia um background. Ainda bêbado da nostalgia, acordei às 4 da manhã. O dia tímido me espreitava lá de fora. Meu teto soltou uns pedaços, quebrei o espelho da porta e o pedaço do dente num pirulito. Atrasei o aluguel, não paguei a conta de água e estou fazendo prece para o gás não acabar. Ainda não sou O Astro, embora precise ir urgente ao dentista. Fiz planos. Falei de São Paulo, Barcelona e Miami. Deixei pedaços do coro da canela no Slackline, pedalei com o pneu em 8 e há uma gripe xexelenta vivendo em simbiose comigo. Meus cabelos transtornados, minhas unhas roídas e uma pá de coisas preguiçosas é o que ainda me sustenta. O café continua forte com pouco açúcar. Eu insisto:  a cafeína me dá sono. Durmo às 10 da noite e acordo às 6:50. Na malha preta da camisa o sol anuncia a severidade do próximo verão. Tenho feito conexões cerebrais e novos caminhos para ir ao trabalho. Minha mãe me conta em viva voz sobre a ressaca do mar que lavou a barraca da frente ao fundo. Fala em tom de tragicomédia da bandalheira política. Ao passo que divago sobre ecoturismo e problemas estruturais, proponho mudanças radicais de cima de um palanque com dedo em riste. Eu nunca seria eleito mãe, mas pode ser que eu queira ser prefeito. Gustavo até já me deu um slogan: “Kaike Mateus Lamoso. O homem do povo”. Para além disso, já tenho a avenida, a banda e o discurso. Só falta a moça na janela para contemplar o absurdo. Vou me sentir burro como a unanimidade. E a morte, que ao tentar dar cabo em Nelson Rodrigues errou três vezes, talvez me leve em sete atos. Na multidão que me assiste, em meio aos rostos conhecidos, vejo uma senhora de cabelo alvo, olhos serenos e sorriso monalisa. A saudade soa tão íntima, embora doa tão desesperadamente. Identifico-me quando os velhos parecem crianças e quando crianças parecem mais velhas. Minha subversão do tempo é quase físico-quântica.  Eu não sou ator, não tenho uma banda e as palavras às vezes me fogem. Continuo vivo e rotineiro. Coloco o sabão em pó de colher e fico vendo a máquina girar. Ando parafraseando a mim mesmo e fecha aspas. Minhas irmãs agora são atrizes e a menor quer sutiã de bojo. Tenho livros no chão do quarto. Talvez eu releia Salinger e viva mais um pouco de Holden Caufield. Anike trouxe Rubem Alves do Rio. E agora que temos o guia, não sei a quem emprestei A Profecia Celestina. Foi para você? Quero um carro, um trago e mais uma dose pra mudar de assunto. Vai entrar setembro. Com essa boa nova tô tranquilo, feito “Easy” na voz de Lionel Ricthie. Recebo beijo de passarinho e visitas no meio da semana. Lembro-me da época em que a vitrola tocava Tina Turner. A change is gonna come, ela dizia. Eu acreditava e acredito. Sim, a mudança está por vir. Ao apartheid musical dei de ombros. Zé tá indo embora pra Itabuna. Eu, estou aqui há quase dois anos. Já não deixo as malas prontas. Mas, por puro impulso, ainda tenho rumo, navio e um porto seguro. Talvez agora eu navegue para o leste. Vai que, do lado de lá do leste, macio e afetuoso, azul mediterrâneo, calmo, calmo, me espere um porto alegre?

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Marinheiro



Bailo calmo e maneiro a dança das ondas
Uma após outra eu abraço e acalmo sobre meu peito
O mar está em mim como estão todas as coisas dentro dele
Estou trazido à tona após um mergulho fundo
Eu, moleque vadio e matreiro
Feito sob lua cheia e maré alta
Eu, Áries que ascende em Aquário
Às uma da manhã de um dia 17, saltava para a vida
Filho primogênito do desafio com a descoberta
Nesse mundo, em que pese ser alguém, estou acima descrito
O resto é alma, calma e romper caminho
Posso lançar mão de poréns, mas não o faço
Navego e abandono padrões e clichês
É peso demais pra carregar e deles eu não sei o que fazer
A fórmula pronta já não me serve
A mim, encanta os porquês
Outra onda sempre vem
Assim é o mar
E o mar sou eu
Minha história, que outrora escrevia em linhas tortas, é nova e renasce com a novidade
Pois é do novo que vem, e é o novo que vai me dizer aonde ir



quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Soul de dia

A carne é crua. A vida é curta. E crua e curta é a noite que me esbarra sozinho.
Fui te saber tão clara, sob holofotes e velas nas sacadas das casas. Fui-te saber tão viva. E agora te vai amarga e finda para destino que ignoro.
Fui pra ser um de vós, ilustres notívagos. Queria também bailar com as estrelas, dançar teu tango no escuro. Espiar no breu os transeuntes e os ficantes. E ser chuva e drama levado pelo vento. Moça de esquina, de tempos em tempos. Moça e menina. 
Plaina e clara é pele refletida. São faróis ou flashs que me confundem as vistas?
O tempo é pouco, o dinheiro mingua. E minguo e pouco, é o que faço de mim. Fui-me saber tão diurno, que tardo, amargo e obtuso, sob qualquer crepúsculo.
Já é tarde meus amigos taciturnos, amantes da dama de negro. Despeço-me e conto-lhes meu segredo. Se o sol se põe, eu me ponho. A noite não é minha senhores, a noite é dos sonhos!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Amon Ha- ha-ha-ha (Homenagem póstuma para um grande amigo)


Seu nome é a continuação de um riso...

Hoje vai ter farra, ontem teve e amanhã também. Vai ter passeata de puta, luto nos botecos e tristeza para os que ficam. Só não vai ter baixo astral, até porque isso não era permitido estando com ele. Quem já teve esse privilégio há de concordar comigo. Tudo era motivo de chacota, de escracho. Nenhuma resenha era tão boa se ele não estava.
Gente boa, da melhor espécie. Tinha um coração grande, no qual guardou um milhão de amigos. Gostava muito de somar, mas o que ele sabia mesmo era dividir. Para ele, a alegria tinha que ser compartilhada. Nunca teve apego ao dinheiro, talvez por isso nunca tenha faltado para ele. Não importava quantos Reais, mas sim a boa companhia. Vai me dizer que você conhece muita gente assim. Conhece não, Amon era uma raridade.
Geralmente, quando alguém morre, a gente sempre encontra uma coincidência aqui, um sinal ali. Pois comigo foi assim: chovia muito aqui na noite de sábado e como o clima estava favorável resolvi ficar em casa. Tomei um banho e fui procurar uma bermuda mais folgada pra dormir. Revirei o guarda-roupa até que achei uma bermuda laranja. É uma bermuda dessas de elástico e bolso dos lados, feia demais. Eu nunca compraria uma bermuda daquelas. Mas como era pra dormir, confortavelmente e sozinho, não importava a estética. Tive uma noite intranquila, acordei algumas vezes durante a madrugada e levantei com aquela pontinha de tristeza que só as manhãs de domingo trazem. De bermuda laranja, fui cortar um abacaxi na cozinha. Foi quando meu celular tocou sinalizando uma mensagem: era meu pai me contando que Amon tinha morrido.
Ai “Rasga”, lembrei-me daquela manhã de domingo, depois de um virote daqueles, a gente tomando uma cerveja, curando a ressaca num banho de bica e comendo uma galinha ao molho pardo na beira da estrada que vai para Jequié. Lembrei-me da vez que a gente foi buscar o Escort em Ubatã e eu quase bato o carro que você deixou comigo. Do réveillon antológico que a gente passou lá nos 3 Coqueiros, daquela festa, daquele rock, daquela vez, enfim. Lembrei que a bermuda laranja era sua.
É assim que vou lembrar de você meu irmão. Em todo brinde, toda boa risada, todo momento de felicidade. É assim que você gostaria de ser lembrado.
E como aqui, nenhum lugar era triste se você estava, onde estiver, a farra continua.
Valeu Rasga! Um dia te devolvo a bermuda laranja, você vai fazer sucesso com ela.
Fica em paz. Um grande abraço.

Kaike Lamoso- “A lama”.