segunda-feira, 20 de junho de 2011

Um poema, duas mãos (em parceria com Dani do profundaidade.blogspot.com)




A magia do olho está no jeito de olhar.
- A vista é a do mar, aqui no Rio Vermelho...
- As tardes costumam usar um traje sensível, e vem uma saudade do nada. E deixo o mar me encher, como o mar em maré...
Até a beira de uma praia qualquer, se dá gosto de olhar, dá vontade de comer.
- E essas considerações, formo e abandono, em um trago lento de fumo que ergue-se e se dispersa longe.
Essa fumaça, pra quem vê além, são nuvens esparsas onde o amor se esconde...
- é talvez, no fundo. O amor é isso: soltar-se no ar, pela escada inexistente e a capacidade de se iludir.
- e espairecer.
Pois, nesse jogo de achar, melhor mesmo é se perder.
- Desde que qualquer coisa se possa sonhar, é a fuga abstrata do tempo.
É o vento que começa a soprar. E o fim de tarde vem lento, nessa cidade rodeada de mar, o que é? O que há?
- É qualquer coisa despertando em mim, aquela sensibilidade tênue... própria de quem sabe chegar e não teme.
 Eu mesma, que acabo de dizer: anseio alto pelo sol na fronte e pelo horizonte inteiro.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

De tempos em tempos


Minhas palavras saíram de recesso.

Desconfio seriamente que nas entrelinhas do meu alfabeto há um líder e algum movimento de revolta.
Que embora não erga sua bandeira, nem me desafie com o dedo em riste, me deixa assim: nu.
Suponho que existe um canto da minha alma para onde as palavras migram de tempos em tempos.
Penso que esse lugar pode ser um barril de carvalho, no qual, incólumes, os dizeres do porvir estão em puro estado de maturação.
Posso sentir os aromas, perceber seus tons de furta-cor, mas não me é permitido tocá-los.
São como virgens imaculadas. 
E eu, um lobo feroz à sua caça.
Não obstante, esse meu desejo é puro afã.
Só me resta supor e esperar com os pés em água quente.
E a propósito de querer eximir qualquer tropeço nas etiquetas,pelado de palavras,vou em frente.
Meu silêncio é quase um atentado ao pudor.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Maresia


Soaram as canções de um novo tempo.
Há sementes nas rugas da terra.
Glóbulos brancos, vermelhos, hemoglobina explode nas minhas veias.
Cobri meu corpo de vinho tinto e me fiz puro sangue.
Um ar de aurora ventila meus pulmões.
E essa coisa, como que saída da placidez de um parto, era você.
Tu vinhas.
O teu cheiro, no entanto, chegava antes.
Teu perfume viajava com pressa.
E ia assim, ligeiro, avisar minhas narinas,
pra que liguem os neurônios.
Chegou a hora, vai começar o jogo.
No hipocampo, são milhões pra cada lado.
E no meu emaranhado de carbono e água,
Impulsos elétricos serpenteiam em procissão.
Vão buscar o dia exato, a hora precisa;
na qual, por magnetismo ou peça pregada ou desarranjo astronômico,
de Libra com ascendente em Peixes,
ou um daqueles feixes de luz que partem do infinito,
rompem a atmosfera das coisas,
e me põem por demais aflito;
Me dizer em sonho, quando tú havia de morar comigo.
E a pretexto de me deixar mais calmo,
a brisa interveio sobre as águas.
Me embalei naquele bailado.
As ondas refletindo a lua.
E agora bem mais sossegado,
Percebi que ao meu redor nada existia.
Tu vinhas.
E o teu cheiro, pelo barulho de uma concha, me dizia:
Dorme coração, não te aporrinha.