sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Sobre verdades, clichês e otras coisitas más.


Do macaco ou não, você veio, ou melhor, você está aqui.
Filho ou não de Adão e Eva, você está aqui, mesmo sem pedir.
E precisa ser algo ou alguém que possa se enquadrar em algum modelo, que possa ver sua imagem bidimensional numa foto 3x4 tirada 15 anos antes e dizer:
- Esse sou eu, tinha um cabelo mais liso e loiro, agora tá mais crespo e escuro. Minhas células se renovam completamente a cada 7 anos, mas eu ainda sou o mesmo, sou esse aqui da foto.
Deve ser difícil não ter escolhas, quando você menos espera é agraciado com o “milagre” da vida. Você conseguiu. Foi o mais eficiente entre os espermatozóides do seu pai naquela noite, e o melhor, permitiram que você viesse ao mundo. Agora já que está aqui trate de fazer algo, esse é o momento de interferir. Mesmo sendo mais um no meio de 6 bilhões seus atos têm impacto e, cada escolha sua, por menor que seja, muda totalmente o desenrolar da sua trajetória.

Aliás, falando em escolhas, lembre do livre arbítrio ou da chamada liberdade de escolha, mas não esqueça que Deus é onipresente e onisciente, ele sabe de tudo. Lembre-se que você pode enganar a si próprio, não que isso seja um absurdo, afinal, mentiras e verdades alimentam-se uma das outras, a mentira precisa de verdade para existir.
Aproveitando a deixa: “quanto da verdade você é capaz de suportar, quando tudo que é sólido se desmancha no ar?”
Acredite ou não numa verdade absoluta, numa comprovação científica. Que seu corpo é um emaranhado complexo de água e carbono e, que cada ação por menor que seja é controlada por impulsos elétricos e reações químicas. Você quer muito fazer algo, mas seu corpo e sua mente nem sempre estão em perfeita conexão e você é um desastrado derrubando tudo no caminho.
Essa ideia de vida, de tempo, o que você faz com ela? O tempo dividido em períodos aos quais demos nomes de séculos, anos, meses, minutos, milésimos de segundo, podem ser um instante só, escurece e amanhece e estamos no mesmo instante, um grande instante. Para alguns um eterno retorno, uma repetição maquiada.
Almas novas ou reencarnações? Cada um de nós somos o que somos, ou carregamos conosco milhares de anos de informação genética ou possivelmente de vidas passadas? Teremos então uma segunda chance?
Você sentado á sombra de uma árvore observa uma maçã, de repente ela despenca e despedaça-se no chão, eis que uma força incide sobre aquele corpo fazendo com que ele caia. A mesma força que faz as coisas ficarem aparentemente estáticas e presas ao chão. Mas enquanto isso você voa nos sonhos, percebe que não existem leis para o pensamento e mesmo assim você quer puni-los.
Uma palavra cruzada já resolvida por alguém foi resolvida por todos no mundo, uma ideia expressada é uma ideia compartilhada, e todos tiveram essa ideia simultaneamente. Estamos conectados de alguma forma, somos aqui nesse grande instante, personagens, agentes. Não insista em ser mais uma formiga, não passe por alguém e siga em frente, tudo que foi fluiu para isso.
Bom dia pra você também, meu nome é...

Criamos a linguagem pra transcender o nosso isolamento, use-a a seu favor. Pense bem: as palavras, organismos inertes, sem vida, podem expressar situações complexas e densas, cheias de experiências as quais não podem ser entendidas apenas de forma material. É quando esse conjunto de símbolos ganha vida e se torna capaz de expressar o essencial, que muitas vezes não captamos através das pupilas, ou papilas da nossa língua.
Criamos um som para o pensamento e esse som é proveniente da união de letras. É por meio dessa união simbólica que lemos o mundo e compartilhamos nossas experiências sensíveis. A palavra “Amor”, quando pronunciada, traz consigo uma enormidade de significados, estes que estão submetidos a um contexto.
São tantas opções e você se sente engolido por elas, faz tudo para estar sempre certo, mas daí lembra que o certo é relativo e que tudo vale à pena, pois seu instante é agora. Se arrependa só do que você não fez, mas é importante lembrar que seus atos têm conseqüências, e que a omissão também é um ato. Viver mais apaixonadamente, assumir a responsabilidade do que se é, a vida é a sua obra a ser criada.

Você tem culpa e não carrega a cruz, o outro tem, e não dá a mínima pra ela pra ela. Você pecou quando eles pecaram, você comeu a maçã, assuma e regozije-se na angústia. Ponha os joelhos no chão e será salvo, ou melhor, “conheça a verdade e ela vos libertará”. Mas qual verdade em meio a tantas?
Você está num barco, para onde você quer ir? Caso não saiba, posso te deixar em qualquer lugar, pra você não fará diferença. Ao chegar, você então provavelmente vai me perguntar. - Que lugar é esse? E eu vou responder. - Tanto faz, pois, você não sabe aonde quer ir.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Antes

Antes o fim dos tempos que vazio no peito.
Antes um poço fundo.
Respirar ar rarefeito no topo do mundo.
Antes ser um ébrio andando com e entre os ratos.
Antes parar no meio, fazer feio entre os melhores.
Ser pego no flagra em trajes menores.
Antes o desespero de ser um mutante
 que deixar pra trás tanto amor nesse músculo pulsante.
Antes andar sozinho, mudando de cara.
Fingindo uma flor, uma estrada, um fim de tarde
E as aves voltam pra casa.
Antes mais uma guerra que vazio no peito.
Batalhar sem motivo ou pleito.
Atirar e acertar a si mesmo.
Ser andante,
Prefiro ser ou não.
Metamorfose ambulante.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

De javu

Era só aquilo pra eu te ver.
Meus olhos, ora tão distraídos, pararam de procurar.
Que faço eu da sua aparição?
Sendo e solto levando o vento.
Seguindo a melhor maneira de estar.
Cedo eu.
Sendo seu e dó.
Melhor você a mim.
E eu a ti me disponho.
Desatado em desatino.
Perdido no baú de achados.
Corro perigo.
Será que alguém corre comigo?
Corro.
Corra.
Alguém pra correr comigo.
Ó esse alguém no invés.
Quisera eu mais uma vez derramar sobre ti os meus olhos.
Quiçá me destes outro viés.
Quem sabe queres um abrigo.
Digo mais do que for preciso.
Pra levar de ti o mais sublime.
Desisto do disfarce.
Como voltar pra´quele momento?
Como posso depois de tudo querer apenas um Déjà vu? 
Você ainda quer dançar comigo?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Primavera

Partiu como um bicho voador.
E até hoje ouço os zumbizar das suas asas.
E até hoje sou um copo derramado,
Revirado de poesia e caos.
Esperando a próxima chuva.
Um disco arranhado no mesmo verso.
Poeta incompleto perdido na folha em branco.
Banco de praça à mercê dos pombos.
Pondo as mãos, e nada no bolso.

Partiu de pronto, destrambelhada.
E até hoje ouço o tilintar das suas pulseiras.
E até hoje sou rua deserta,
Seta que não acerta o alvo.
Sou calvo, carro, pneu careca.
Me acerta, me leva pra sua meta.
Deixe que eu me meta.
Me arruma.
Me joga contra o peito.
Faça de mim um homem desfeito.
Me leva.
Me lava.
Me entrega.
Me lança na tua boca salivada.
Que eu morro feliz nas tuas águas.

Partiu e deixou o cheiro de incenso.
E até hoje a fumaça revela.
E até hoje sou aquele que espera.
E a vida vai.
O tempo joga.
A rotina exaspera.
E até hoje eu preparo a terra,
Sou flor fora do tempo,
Esperando a primavera.




quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Comunicado

Venho, por meio deste, comunicar um absurdo, um impropério, um desacato.
Uma denúncia de maus tratos, uma má interpretação dos fatos, um abuso.
Um erro crasso, um fazer obtuso, a presença de um intruso nos advérbios.
Venho mostrar minha indignação, minha recusa, minha renúncia.
É uma falácia, mentira descabida, inverdade deslavada.
Não acreditem, não dêem crédito, não publiquem.
Não levem a júri.
Não acendam as fogueiras, nem carreguem as cruzes.
Não travem as algemas, não torturem.
Somos inocentes, ou provem o contrário.
Não temos preparo, não evoluímos.
É. Nós mentimos.
Não somos capazes.
Não há remédios eficazes.
Não tem cura.
Não há alma pura,
Ou verdade que revele.
Há muito pouco, tampouco.
Sádico e louco, o destino nos espera.
Quanta ira e desejo na boca dessa fera.
Demasiado cruel.
Insensível.
Um espelho sob a pele,
Reflete em meio aos escombros,
Os nossos pecados mundanos.
Os nossos desejos profanos.
Acredite.
Somos humanos,
Demasiadamente humanos.


segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Devaneio

Ficava ali, e ali nada fazia ou guardava.
Tinha o amor a tiracolo, e uma saudade fatigada.
Nada queria, e seu olho aguava uma lágrima convertida.
Não entendia porque trocava seu trabalho por coisas, e estas por outras mais.
Tinha o coração apressado, e uma faca entre os dentes.
A tarde rangia atrás das cortinas, e fenecia
estendida no horizonte vadio de bochechas ora rosas, ora violetas.
Preferia amar de longe e inflar suas velas em mares tranqüilos.
Carregava consigo um vaso com água salgada, que bebia para acordar um dragão há muito adormecido em sua barriga.
Pintava os olhos e as unhas com um rosa tímido. Queria ainda ser menina. Mas tinha vida nova no ventre, e a responsabilidade já lhe esmagava a cabeça.
Ficava ali, e ali nada entendia. O musgo das paredes. A sala vazia. A poeira refletida na luz do sol. Um livro de Dostoiévisk na estante. O desespero constante.
Ficava ali, querendo esconder-se do mundo e criar uma estranha realidade.
Esforçava-se em por pra fora as velhas ideias dos sermões na igreja.
Sua pele permanecia incólume, estava alheia a passagem dos anos.
Ficava ali, o tempo ia, a vida ia.
Seu sono ia, e ela acordava cheia de si.
Naquela tarde vazia, enquanto tudo mudava, ela dormia.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

É o que tem pra hoje.

A bem dizer, esse não é um reclame.
Nada que maldiga ou macule a cor dos seus cabelos.
Nada que não diga respeito a uma segunda-feira chuvosa.
A esperança escorrendo bueiro abaixo.
A temperança subindo fumaça acima.
Nada que você nunca tenha ouvido falar.

Merda de cachorro na calçada,
Perua no celular, uma mente quadrada,
óculos oval cobrindo metade da cara,
De pau.

Pedras palavras.
Um tapa de luva,
Cabelo escovinha,
Desmonta na chuva.

Aumenta o volume,
Maltrata meus tímpanos.
Já é de costume,
Come, consome,
Depois fica vazia e some.

Alguém acode o humor.
Atropelado em cima da faixa,
Mutilado pela pressa.

Pese comigo: quanto custa um quilo de bom senso?
Quanto tempo pra você mudar de tom?
Michel Jackson não agüentou,
Mudou de cor.

Não é um reclame,
Se for falso testemunho, nem levante.
Permaneça.

Continuo a andar pelo passeio.
Sigo sozinho.
É pau, é pedra, mas não é o fim do caminho.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Energia

“Vamos acreditar na energia. Numa nova forma de partilhar vivências e conhecimento, como num inconsciente coletivo permeado de realidade.
Dar as mãos, nesse caso, assume um novo sentido, que não apenas o toque. Passa a ser um meio, pelo qual, novas perspectivas de entender o mundo fluem.
Tal energia - alheia a opção sexual, cor, credo, visão política ou coisa que o valha- é o que nos resta da essência humana, e nos faz caminhar a passos firmes rumo a uma nova forma de vivência, baseada em relações mais amistosas e menos mercantilistas.
Emanar essa energia é deixar um pedaço de si e levar um pedaço do outro, na tentativa de estabelecer um novo tipo de vínculo”.


( texto escrito durante um exercício no curso de redação publicitária,no qual teríamos que dar as mãos a pessoa ao lado e escrever sobre essa sensação, sem interrupções)


quinta-feira, 1 de julho de 2010

Pra onde você foi passarinho que já não cantas em minha tarde?
Já não invade, deixando e levando coisas boas.
Já não me conta o que passou, nem o que virá.

Pra onde passarinho?
Não gostaste do ninho que eu te fiz?
Partiu ligeiro, o vento soprou, o tempo passou.

Pra onde?
A tarde voltou, meu tempo é aqui.
Ainda sou o mesmo e espero te ouvir.

Pra onde?
Dê-me uma pista, ou diga pra que eu desista.
Se insisto, ou deixo pra trás.
Se não queres que esses olhos te vejam,
Não se enfeita pro meu carnaval.

Pra onde?
Se partiu de vez, que assim seja.
Não queira adoçar minha boca com algumas gotas.
Se tiver de vir, que venha enxurrada.
Não me mate de agonia.
Não penses que sou gaiola.
Te quero livre passarinho, desde que esteja no meu ninho.
Pra onde?
Quero te ouvir passarinho.
Cante.
Esse é seu dom, e está vazio.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Quebra-Caetano

O que hoje é belo amanhã pode não ser.
Essa verdade passageira transformou sua beleza em caos.
Atrapalhou, te fez quebra-cabeça.
E por mais que eu tente juntar as peças,
Por mais fundo que eu mergulhe na consciência,
Não consigo.

As coisas não têm lugar nessa desordem.
Nada explica, só confunde.
Nada fica, tudo explode.
E Caetano segue cantando.
Alguma coisa está fora da ordem.

Está pintada a explicação,
E por mais clara que seja a razão.
Eu não enxergo.

Estou cego de palavras,
Farto da chuva e do sol.
Estou cansado de dias pela metade.
De ser peixe e anzol.

Estou certo desse desfecho,
Se fecho, ou deixo os olhos abertos.
Se parto ou peço perdão.


Se sou aquilo que faço,
Ou vivo aquilo que sou.
Não sei se fico ou se passo.
Ou mudo de direção.

Alguma coisa está fora da ordem,
E Caetano não cansa de dizer,
Que você não entende nada do que ele canta.
E que a franja da encosta cor de laranja,
Era o melhor que podia acontecer à cor amarela.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Amor leve.
Junta e espalha.
Manifesta e estronda.
É de amaciar os ouvidos.
Acalmar as horas.

É leve e suspende.
Vai ao céu e precipita.
Toda hora chove, e derrama...

Todo dia em sua cama um oceano nos engole.
E eu me lavo, deito, rolo e mordo.
Deslizo coluna abaixo,
Passo como um rio entre suas montanhas.
E deságuo em mar viscoso.

Amor leve.
Sobe e desce ladeira.
É planta rasteira que cresce sem controle.

Amor de riso e gozo.
Não paga dívida.
Não tem remorso.
Não há momento novo no qual esse amor não grite.
Ou céu imenso que não precipite e derrame...

segunda-feira, 1 de março de 2010

Surdo

O dia acordou surdo.
Amanheceu alheio a qualquer barulho.
E eu alheio a mim continuei ali, no absurdo.
O dia que nasceu sem graça não ouviu cantar o galo,
Nem o farfalhar das folhas tocadas pela brisa,
ou as ondas que quebravam na praia.
O dia nasceu com pressa.
Não viu a menina passar,
Nem a borboleta, nem o sabiá.
E eu cheio de mim continuei a olhar.
O dia acordou nervoso.
Acinzentou o céu, escondeu o sol.
Não tinha vento, nem chuva.
E eu vazio de ti continuei ali querendo nascer de novo.
O dia nasceu pirraçado pela noite.
Ela fez o que queria dele, no lugar do beijo um açoite.
Adiantou a alvorada, tardou em aparecer.
Deixou-o esperando com o sol no meio do céu.
E eu continuei ali só sendo.
O dia, coitado dele, nasceu orgulhoso.
E na pressa esqueceu-se de acordar os pássaros.
Tapou os ouvidos e não ouviu o mundo.
Nervoso, deixou de ser belo.
Nem ensolarado nem chuvoso.
O dia deixou de ser.
O dia acordou triste, mas toda tristeza que existe,
Existe pra virar poesia.
E eu continuei ali, esperando minha hora de aparecer.
Eu, e o dia ali querendo morrer de novo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Entre nós

Entre tantas coisas espalhadas,
Montes e mais montes do que fui e larguei.
Entre tanta gente preocupada,
No meio da multidão que caminhei.
Nada de novo se anuncia.

Entre o fino trato e os que comem carne crua.
Os que aquecem o globo, roubam a tia.
Matam a esmo enquanto morrem de agonia.
Ainda caminham pela mesma rua.

Entre tantas notícias de jornais,
Fatos e mais fatos inventados todo dia.
Entre os monges do Tibet e uma bomba que explodia.
Em todo dedo de prosa e toda palavra.
Nada de novo se dizia.

Entre ventos e águas que não refrescam nem lavam.
Entre as vidas destruídas nas barrigas das Marias.
Entre versos escaldados ao sol do meio-dia.
Nada de novo se erguia.

Entre terras e céus que o menino desconhece.
Um cesto de esmolas. Um coração enobrece.
Esse homem que o próprio homem desconhece.
Esvaía-se.

Entre corpos e copos em que a alma se perdia.
Montes e mais montes da velha hipocrisia.
Que rima com burocracia, com moça vadia, mais valia.
Nada de belo se mostrava.

Entre nós, e um nó que desata.
Mais amor a mais, nada mais nada falta.
Entre vós um sentimento renova.
Sem peso, quando pede mais apreço.
Sem medo, sem medir.
Vale o quanto mereço.
Sem medo, sem mentir.
Sempre chego ao te ver partir.

Entre tantos cais de porto.
Um mar que não um mar morto.
Entre tanta coisa que eu peço.
Mais e mais, o ar de um novo dia.
As coisas vazias das quais me despeço.
Sem coração ou verso apunhalado.
Sem verbo ou palavra encarcerada.


Supus o que eu queria.
E a fumaça das vaidades,
Acinzentava meu olhar.
A chuva derramava o mundo em minha cabeça.
E a lembrança dos dias ensolarados se esvaía.

Depois de tudo,
Amar se fez um verbo descabido.
Correr, no entanto, melhor amigo.

Cuidar, guardar e tudo ir aos pedaços.
Juntar, colar, fazer da minha alma um mosaico.
Tudo passando e eu mandando recados.

As horas iam à fumaça do meu cigarro.
E eu meu Deus?
Cheio de dedos, comendo sem me sujar.
Andando sem estardalhaço.

Trazei o meu cálice e bebei comigo.
Não me deixes até que tenha acabado.
Vou levar-te para o alto e inventar nosso pecado.
Voar sobre as nuvens em desmedida vontade.
E despencar no vazio em proposital insanidade.

Prometi e não fiz, mas dessa vez eu faço.

A ti, você afim.
A mim, você me basta.
A ti é preciso saber
derramar-se, pra não endurecer.
Dividir-se, pra não implodir.
Amar, pra não morrer do próprio veneno.
Só basta querer.
Pois eu continuo querendo.