quinta-feira, 20 de novembro de 2008


Solteiro

Ser solteiro é um estado de espírito, é deixar-se levar pelas possibilidades. É ser o melhor amigo do acaso, e levar a bola do destino em pleno jogo.
Estar solto! É isso que significa. Parece com urubu no azul do firmamento. Arbusto seco sob a chuva do sertão. Andarilho de corda bamba alheio à possibilidade do chão.
Dá vontade de correr maratonas! Até os casados sentem-se assim, mas só quando traem. Trair é vontade reprimida de estar solto (eiro). É o não contentar-se de prender-se. É o contentamento infiel.
“Aventureiro”, dirão. Claro. Ser livre é assumir riscos. Casar é dividir os riscos. Pular de pára-quedas é melhor sozinho.
Vai ficar para a titia! Que seja. Pelo menos não ficou sozinho. Solteiro não é sozinho. É o encontro maior do “consigo mesmo”. É esquecer a hora de chegar em casa, procurando atalhos pelo caminho.
Ser solteiro é solidariedade. É distribuir amor nas cuias de esmola. Reforma agrária do coração. Tem gente que tem coração de latifúndio, um só amor não basta. Amores brutos, rápidos e profundos. Topa tudo. Desde que dure o necessário para voltar à tona e respirar.
O casamento é a pós-graduação da solteirice. Não precisa de tese ou antítese, ser solteiro é a síntese.
Não é vagabundagem, nem viver de bicos. É a pró-atividade do primeiro dia de trabalho. O fazer antes da ordem.
Ser solteiro é fazer surpresa e ser surpreendido.
É escrever sem precisar de final. Se houver, será feliz. Se houver será reticência...
É falar sozinho pra todo mundo ouvir. Um querer bem. Vontade imensa de fazer besteira. De sentir um cheiro, um gosto, um beijo.
É manual de sobrevivência na selva. Perfume de grandes e pequenos frascos.
É avenida. Protesto dos mau amados. Bandeira sinalizando um porto alegre.
É cais de porto seguro. Sem âncoras, só descanso.
É refúgio. Trauma de relações encarceradas. Efeito Colateral.
É apego e desapego. Macarrão instantâneo. 3 minutos e pode comer.
Ser patriota em terras desconhecidas. É fazer depois pensar.
Não é status, é estilo de vida. É qualidade de vida.
É ser, quando todos não são. É rabo de saia e canto de olho. É sorriso indiscreto.
É não precisar do passado pra ver o futuro.
É um a zero, um a quinze, um a um quando quiser.
É carnaval. Folia de Reis. Frevo e maracatu. Réveillon!
É saber de cór todos os predicados. É falar no ouvido do vento os versos decorados.
É chão e teto. Gostar do amor e da amada.
O avesso do egoísmo. É fatiar-se para se sentir.
Tudo, e nada é seu. Ninguém é de ninguém.
É ter rédea, pose e prumo.
É um dom. É se amar antes de tudo.
É um querer saber infinito.
É amar e ser amado, mesmo que por um segundo.