quinta-feira, 1 de julho de 2010

Pra onde você foi passarinho que já não cantas em minha tarde?
Já não invade, deixando e levando coisas boas.
Já não me conta o que passou, nem o que virá.

Pra onde passarinho?
Não gostaste do ninho que eu te fiz?
Partiu ligeiro, o vento soprou, o tempo passou.

Pra onde?
A tarde voltou, meu tempo é aqui.
Ainda sou o mesmo e espero te ouvir.

Pra onde?
Dê-me uma pista, ou diga pra que eu desista.
Se insisto, ou deixo pra trás.
Se não queres que esses olhos te vejam,
Não se enfeita pro meu carnaval.

Pra onde?
Se partiu de vez, que assim seja.
Não queira adoçar minha boca com algumas gotas.
Se tiver de vir, que venha enxurrada.
Não me mate de agonia.
Não penses que sou gaiola.
Te quero livre passarinho, desde que esteja no meu ninho.
Pra onde?
Quero te ouvir passarinho.
Cante.
Esse é seu dom, e está vazio.

3 comentários:

Gabi Setti disse...

"Maria: Acho que meu distino é sempre fazer o caminho di vorta. Adeus, Zé!"

Gabi Setti disse...

'Aquela mandante amizade. Eu não pensava em adição nenhuma, de pior propósito. Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava. Diga o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego. Era ele estar por longe, e eu só nele pensava. E eu mesmo não entendia então o que aquilo era? Sei que sim. Mas não. E eu mesmo entender não queria...'

(Guimarães Rosa)

Ellen Joyce disse...

É linda essa tb, eu invejo quem sabe fazer com essa simplicidade tão delicada