terça-feira, 6 de setembro de 2011

Tupiniquim

Pus fogo no verso.
Fiz a brasa brasileira incendiar minha palavra.
Fiz minha chama tremular no olhar estrangeiro.
E o que eu disser, na minha língua, pode ser de amor ou de mágoa;
Seja por mar ou por terra, é o que vai chegar primeiro.

Pus meu discurso a sambar na boca do povo.
Nos corações, em qualquer que haja batuque, faço assento.
E verso larga prosa para as nossas dores.
E dou à prosa, o amor dos poetas.
E aos poetas a brisa do contentamento.

Sobre os seios da mulata debrucei meu ditado.
E sendo dito como um moleque vadio.
E sendo feito com palavra e pão.
Nasci no mato e me criei nesse chão.
Estou farto do inglês mal falado e do Jazz.
Quero ser batizado num samba-canção.
E do preto velho, sentado, beijar os pés.

Ô moleque ousado, corre solto na rima e dá um drible na métrica.
És um hiato.
Trovador pós-moderno das coisas fugidias.
Côncavo e convexo.
Que se queda perplexo, frente ao absurdo do dia-a-dia.

Neste tempo, embora eu esteja são, é inútil procurar pelo nexo.
Entre a mentira e o fato, não encerro nem principio.
Levo a palavra comigo, e ela vai.
Ser-se-á cantada ou falada, tanto faz.
Ser-se-á lida, quiçá adorada.
Ou morrerá ancorada à beira de um cais, não sei.
A mim, cabe a tarefa de escrever.


Um comentário:

Marco Antonio disse...

eu tenho uma enorme resistência com versos. trechos definidos como num poema de alguma escola q até disto esqueci o nome. eu precisaria parar e lembrar pq...onde rompi com este exercício? tenho uma caixa inteira, cheia de poesias com versos assim. mas aí fui tomando rumos distindos. me envolvendo com textos de formas variadas, de linguagens outras, com outros olhares e perspectivas e exercícios de palavras, até chegar a atual condição das pílulas. de toda forma...seu texto me fez lembrar de uma reportagem q li sobre a redescoberta do cais antigo do Rio, especialmente a parte do Valongo, onde os escravos eram vendidos (e torturados). a redescoberta é importante, a história é vergonhosa, mas a poesia me lembra o jeito da época em contar o mundo. vai saber. rs. abs broder.