Quem inventa o amor, o faz em desvario, e por vezes sofre ao vê-lo mínimo, parco e desbotado.
Quem inventa uma felicidade, desespera-se ao vê-la falsa e sem sabor numa tarde vazia.
Quem inventa um conto, aumenta um ponto, dá nó em pingo de éter e tem o que dizer quando for avô (a).
Quem inventa a si mesmo surpreende-se ao ver-se vistoso e revigorado.
Quem inventa de ser o que não é, sorri ao não reconhecer-se no espelho, mas logo dá com a cara no chão e os burros n´agua.
Quem inventa a dor, frustra-se ao perceber que sua dor é menor que a do outro, e que as do mundo desatinam a doer sem medida.
Quem inventa o dia, um pôr-do-sol lilás, borboletas azuis num voo suave, uma orquídea no meio da mata;
Quem inventa a mata e as árvores frondosas com bichos nas galhas;
Quem inventa a paz, a liberdade, o desapego;
Quem inventa Deus e o Diabo numa terra sem sol;
Quem inventa a paixão, o contrário, a solidão;
Uma praia deserta e a gente deitado nela;
A canção, uma oitava acima de todos nós;
Quem inventa uma nova saída, um lugar para boas ideias;
Quem inventa de ser teimoso e acha o caminho das pedras;
Quem inventa de morrer e passa pro lado de lá;
Quem inventa o mundo, o absurdo de acharmos que somos únicos;
Quem inventa eu, você, outrem, outrora, a hora, agora;
Quem inventa é sábio. Tem alma de criança e espírito livre.
Porém, quem nada inventa, nada vive.
Quem nada inventa, já morreu.