sexta-feira, 4 de maio de 2012

Comboios


Boiam na água, na cara do poço, meus sentimentos.
Qual tecido recortado, deitado fora por não servir à roupa.
Por não vestir ninguém.

Não sei mais a parte que me cabe nesse sentir tudo.
Não sei.
Deveras não sei distinguir o que há de errado comigo.
Quiçá saberei o que te aconteceu, ó mundo, vasto mundo.
Pobre de mim, que não me chamo Raimundo.
Que não sei rimar ou emprestar sentido ao que é meu.
Pobre de mim, que não sou daqui.

Tudo que eu quis, ou foi pouco ou sobrou.
E hoje, não há nada que eu queira mais
do que saudar o que ainda não vivi.

Abre a janela menina, abre a janela.
O que você vê, reflete aquilo que você é.
Abre a janela, eu imploro.
Vem te ver.
Tenho fé, menina, por isso escrevo.
Tenho a boca seca, os olhos grandes e algum vazio.


Preciso falar para não endurecer:
Não deixe pra trás, não desista.
Pegue o que é teu.
É o que vale amiga.
O resto é o que pode ter sido, que não é.
O resto é um querer descabido,
uma vontade matreira de te fazer aquém.

Já fomos tudo, outrora, já somos um.
Sigamos juntos, o peito aberto e o olhar noturno.
Caminhemos por mais caminhos do que nossos pés alcancem.
Sintamos o gosto da fruta e a luz da vida na semente.
Voemos alto, por fim, voemos.
Há metafísica bastante em não ter parte com tudo isso.

Tudo que passa.
Tudo que pára as massas.
Tudo que amassa e apodrece as maçãs.
Não é digno de amor.
Não se pode levar pra cama,
Nem dar lugar no esplendor.

Põe mais comida à mesa farta.
Põe mais pretensão divina nas igrejas.
Faça isso de modo que te torne grande e sublime.
Faça isso porque não há nada mais que mude ou altere:
A palavra dita, a flecha lançada e a matéria inerte.

Há mais revolução na mesa de um bar,
Do que em baixo dos pelos, dos peitos,
Das camisas dos jovens alheios.
Com os dedos em riste, fazendo algazarra e farra com o blá,blá,blá dos livros.
Há quem duvide e há quem faça.
O olhar é que os distingue.

Me dê absolvição, ó mestre, não sei o que falo.
Perdoa o cancioneiro errante, o cantador caduco, a sinfonia finda.
Perdoa o infante, estrada afora, sem saber pra onde vai ou de onde vem.
Perdoa a mim, que deixei no espelho d´água tudo aquilo que senti e não sei.









2 comentários:

Caio Caribé disse...

Pra onde o vento sopra, vou

Posto que sou leve

Pluma que a brisa guia.

Pra visitar o céu,

É só não estar no chão

Posto que sou leve,

Elevo-me.

Flutuando entre as lacunas

Do querer e do poder.

Um sopro entre o desejo

e o beijo.

O suave se sente na pele.

E a leveza do ser não se sustenta em si.

Quem dita o que se ascende

é o ar.

o hálito.

O álibi

A hélice

O cálice

O súbito

O sexo

Lévido vulto à noite.

Em suspensão,

Lentamente,

Posto que sou leve,

escalo o ar!

Marco Antonio disse...

quer saber? passa a mão na água, distorce o reflexo da imagem, enche a palma da mão de miragem e joga no rosto, na nuca, no peito, no corpo. lava man. depois segura a mão da menina, assim mesmo, nu, e vai, pra outra estrada não tão deserta. bjo no coração irmaum.