Parar, incólume, diante do mistério
e sentir calar sobre mim as madrugadas mornas
da minha terra
no labirinto sem fim das horas passadas
colher frutas e sonhos nos quintais das
casas
deitar, por sobre a grama da memória,
meu corpo febril e minha alma nova
e ver descer sobre mim o céu sem tamanho
o peito transborda
que eu posso querer de mim
diante da vida imensa
da velocidade da luz
da cegueira perene
da alegria fugaz ?
que posso eu, nu por detrás desses versos
rei no domínio de coisa alguma
ou quase tudo
que for afago ou prece
que traga compaixão e humanidade;
que posso eu
que não sei ser o que mereço
e que quando tenho sido esse
mal me pareço
e esqueço de ser qualquer coisa
que seja isso
ou aquilo
ou nada
?