quinta-feira, 22 de maio de 2014

D´alpendre

não eram as coisas da casa,
não eram
era a vida inteira adormecida no chão da sala
pedaços de nós encalacrados na trama do tapete persa
farelos da nossa pele na poeira que dança
e no reboco das paredes do quarto

estava tudo ali
ou não estava

não, não eram as coisas da casa

era o verso, era o teto, era o gozo embargado,
era a poesia trancada no armário da sala
junto à prataria que não foi usada
nem nunca será

o coração do poeta dura
e desagua no verbo

do que me importa o que grita
o que escandaliza
o que extravasa
se o que me mata é o não dito
o não feito

é a brisa, não o vento.



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