Mais do que ouvir o astrônomo instruído como fez Whitman, é preciso entender os sinais que a vida dá, porque sim, eles existem. Não é numa manhã de terça-feira que tudo desaba. Não é numa noite em claro que tudo se desespera. Não. Coisas antecedem coisas, ondas sucedem ondas, na prática relação causa-efeito.
Sabemos o que é música porque antes nos foi permitido apreciar o silêncio. Gostamos da luz, porque antes tememos a escuridão. Uso essa comparação um tanto clichê, pois assim me faço entender de maneira mais clara e pop. Uso antagonismos porque muitas vezes questionei: por que eu? Ou, por que não eu?
Antes de desejar ter outra vida permiti-me conhecer a minha. Agora, toda vez que eu olhar o cara do paletó, no seu carrão com ar-condicionado e pensar: ali vai um cara super satisfeito com a vida dele. Ou olhar um mendigo de rua e pensar: como pode alguém escolher viver assim? Vou lembrar-me da minha vida e dizer: Ufa! Que bom que esse sou eu.
Vou lembrar que tive infância. Que fui bem criado e educado. E que não tive tudo que quis, mas sempre tive o que precisei. Saber que nisso não há nada de conformismo me faz melhor. Há sim entendimento e compreensão. Há a maturidade do arrependimento e o gozo da vitória também. Nisso, há vida em sentido puro, há alma em mutação, há, mais do que nunca, um coração em metamorfose.
Tiro as borboletas do estômago e as levo para os meus jardins. Deixo o brilho para o sol e a brisa pra uma tarde de domingo. Deixo o charme para os manequins, a maquiagem para as pin-ups e a boemia para os botequins. As coisas são o que são, e nada vai mudar isso.
Fico, e finjo que o queria mesmo era ir embora. Abro os olhos dos meus olhos e os ouvidos dos meus ouvidos, como sugere Rubem, o Alves. Tudo agora é som, e toda palavra me diz, toda vida me ensina. Acho pedras divertidas, como Caeiro e tiro as pedras do caminho, como Drummond. Acredito no latim do Carpe Diem e no amor puro de Djavan.
Olho e repouso sob a sombra de uma árvore frondosa e cheia de frutos. Seus galhos e ramificações se encontram, sua seiva alimenta e fortalece o tronco forte da amizade. Nas suas pontas, bem lá no alto, no mais perto da beleza em que posso chegar, vejo:
Cynara, seus sonhos, palavras e raios de sol. Junior, Simone e seus filhotes, são aquilo que eu quero me tornar. Eveline, a irmã de alma que Deus me deu. Gustavo, desde pequenininho, fala ai Dinho! Marcelo, Peu, Gui, Diego, Marcel. Salve o Diego daqui, o Nêgo e a nega Mariana. Salva ai Caio e Pecinho! Marcinha e seus rebentos, que família linda. Xexinha, como é bom ouvir tua voz, sentir tua força e compartilhar de tanta empolgação. Marco e as palavras sábias. Meus colegas da lida diária aqui na Formato e sua compaixão.
Vejo também aqueles para os quais eu nunca vou deixar de gritar: aí sim família! Estamos juntos. Contemplo todos que me amam e cabem nessa crônica. Todos que eu quero bem e não me abandonam. Dadai, que sorte a nossa! Tarik, sem palavras. Muito obrigado sempre.
Vejo de perto e, principalmente, os que são parte de mim. Que me fazem todo dia lembrar quem eu sou, de onde vim e pra onde eu posso sempre voltar. No verso sabiamente cantado por Mano Brown, “Família em primeiro lugar, é o que há”.
Sento e repouso após um dia longo. Eventualmente a brisa chacoalha as folhas, o sol escapa por entre os galhos e esquenta um pedacinho da minha perna esticada. De vez em quando vem um Bem-te-vi, outrora um Papa-capim que canta B.B King. Meus pés escarafuncham a terra, acordando as larvas e as essências silvestres. Lavoura Arcaica é o que me ocorre, como um lapso de vida passada.
Numa moldura solta, pela qual passam nossas histórias, vejo Anike dando-me um banho e me acalmando com panos quentes. Meu Pai sentado à mesa tarda o fim do café. Enquanto minha Mãe canta um louvor na cozinha que reverbera pelo corredor e chega perto do céu. Minha vó Gracil, como a Úrsula de Garcia Marquez, é testemunha. Sua sofrência e o seu clamor à Santa Rita põe velas acesas.
Á minha frente um grande vale escorre por entre as pedras mais altas. O caminho é uma linha riscada em meio ao bailado do capim e da capoeira. Saco do meu alforje minha única arma, que é escudo e também espada. Que é minha bagagem, meu refúgio nas noites de chuva, a lamparina quando a lua não vem; o meu pão, meu corpo e meu vinho. O amor: essa é a minha foice de abrir caminho.
Levanto e me lembro de um dia ter escrito algo assim: sustento-me, carrego um peso sem medida, seguindo o exemplo da Formiga.
É preciso seguir, na Via Crucis ou na Highway ampla e veloz. No percurso ou no contra fluxo. A Primavera já está, e mais um Verão vem aí.
Abriu meu sinal. A vida não espera para acontecer.
Porque eu?! Porque sim...
É preciso seguir, na Via Crucis ou na Highway ampla e veloz. No percurso ou no contra fluxo. A Primavera já está, e mais um Verão vem aí.
Abriu meu sinal. A vida não espera para acontecer.
Porque eu?! Porque sim...
7 comentários:
Arrebatador!!!
O homem, homem homem, não é feito de carne e idade, é feito de dor, medo, falhas e fraquezas. É do ressurgir das cinzas feito Fênix que abre as asas para contemplar a vida e voar sobre os céus, deixando para trás as nuvens escuras, tempestades e trovoadas. Fênix com peito aberto e estufado, cabeça erguida e narinas bem abertas aspirando um hoje melhor que ontem.
A família, feito uma árvore frutífera possui raízes profundas que estão lá. Lá, no ciclo mais belo e puro da natureza, gerando e adubando seu solo com a queda de seus próprios frutos, e assim os gerando novamente.
A mulher, a que está do seu lado, não foi feita da espinha do homem. Foi da afinidade, da cumplicidade, do bem querer. Da necessidade de compartilhar um sentimento, que a olhos nus parece um clichê, mas que na essência é diferente de todos os outros 'sentires'. Foi feita do despertar para o amor.
Aos amigos, um oceano invandindo todo seu litoral não basta para classificá-los. É muito afeto, carinho e consideração pra um único ser (em comum à todos os citados e os que ficaram nas entrelinhas) tão belo e querido, merecedor de tudo isso: você.
Como não há de todo um mal, digo e repito: ganhei, o mundo todo ganhou um homem melhor, mais forte, mais maduro, com um olhar mais brilhante para a vida.
Ser especial não é algo que se deseja ser e acontece, é algo que simplemente se é. E você é assim: especial, abençoado e querido por sua família, por seus amigos, por mim, por seus colegas de trabalho, pelo cuidador de carros que é sempre cumprimentado, pelo garçom que agradece por não ter um cliente grosso e antipático, pelo advogado que vai ganhar sem quebrar muito a cabeça, por um Deus que você não tem muita intimidade e mesmo assim ele se manifesta por você.
O ocorrido trouxe muita dor a todos no momento do desespero... mas você viu quanto amor surgiu depois de tudo isso??!!
Viva!!
Entao viva!!!
"...e mais um verão vem aí." VIVA!!! \o/
tenho dito a amigos q, nos dias últimos, q antecederam aquele texto da caminhada q vc comentou, minha sensação tem sido de certa neutralidade. tento explicar a expressão pra não ter conotação negativa. não é q eu não esteja sentindo nada. é q eu estou como se estivesse fora de tudo q sinto. analisando com mais parcimônia, mais serenidade. até qdo tou caminhando, o convite é de leveza, reflexão, como um respiro lento e profundo. em resumo, estou zen. tanto q tou saindo da natação e voltando pro yoga. mês uma coisa, mês outra coisa. rs. aí leio o seu texto e vejo essa apropriação de pensamentos, tb no bom sentido. uma sintonia, essa coisa de autoavaliação, autoconhecimento, autotransformação. e de amor. o sentimento-essência. e mais compreendido ainda qdo incondicional. como o q Cristo ensinou lá no cristianismo primitivo (muito antes da igreja surgir modificando certos entendimentos da vida). Kaike, brother, esse aí é o tao do caminho, é a caminhada. 'Namasteh cara. e assim tem de ser, sem tantos porquês neh. bjo grande no coração man.
P.S.: a propósito...tem um Marco no texto. as vezes penso q sou eu citado. rs. mas as vezes acho q não sou eu, pq minhas palavras não são sábias. nem eu sou. rs.
És tu meu bom. Valeu por tudo.
PS: como a sapiência não pode ser medida, pra vc é leve e serena. Mas é fácil de ver ela chegar.
Abração
Brother! como pode um homem ser tão belo quanto tu?!? Não sei o que há, não como está... só sei que a brisa que chega do lado de cá tem cheiro de guaraná!
Abs apertados, homem de sorte!
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