Enquanto o mar ansiar ser tão, tanto, tonto.
Ao ponto de secar sua água e encher meus olhos.
E os meus olhos derramados molharem o chão do teu esquecimento.
Enquanto a minha vida almejar ser tão maior do que toda seca
que há entre nós.
Ao ponto de me por todo dia a navegar e amar e a procurar no
azul infinito,
Um pouco de alma, um cisco de estrela, uma poeira de
estrada.
E quando o sertão vir a ser mais que toda beleza que há entre nós.
Ao ponto de me fazer deitar sob a aridez da calma.
E atravessar os desertos da ira e andar e buscar no meio do
vazio,
Um fio de esperança, um perfume qualquer, algo além de nada.
Água.
Há um lamento que o vento leva nessas horas.
Há um canto de sereia na voz do mundo.
E eu me distraio.
Depois bagunço tudo.
É quando o homem comum se faz poeta.
Quando da planta mal nascida, da verdade mal concebida,
Lá, no obscuro universo do não acontecido,
Nasce o poema.
E o que és tu diante da importância do verso,
Do poder do tempo e da palavra dita?
O poema é um testamento.
É a alma de palavra escrita.
Eu verso porque há em mim um jogo de opostos.
Entre o meu sertão e o teu mar.
Meu amar e o teu ser.
Tão, tanto, tonto.
Justiça seja feita quando o Gerais abraçar o mar aberto,
E brotar o mundo em água no meio do deserto.
E o meu sertão vir a ser mais.
Vir a ser eu.
Vir a ser mar.
E eu morrer afogado em mim, em mar, sem cais.