sexta-feira, 15 de julho de 2011

Mini ficção III

Ele foi embora sem olhar para trás. Esse gesto, o de ir embora, não era novo aos olhos dela. Ele o tinha feito outras vezes, mas, nesta feita, algo no seu jeito de caminhar denunciava: ele não vai voltar. Talvez fosse sua pisada supinada, a bolsa a tiracolo ou o bom dia desanimado. Talvez fosse o peso de carregar tantas mensagens. O fato, é que ele não voltou.

Se morreu, se caiu, se casou, pediu aposentadoria ou foi mordido por um cachorro; se mudou de rota, de serviço ou de vida. Se tem mulher, filho, família. Se é João, Pedro ou Astrogildo. Ela nunca vai saber. 

Coube a ela imaginar que fatídico acontecimento ocasionou o seu sumiço; construir todo tipo de ilação para sua ausência, a fito de entender porque, simplesmente, na manhã de um belo dia, ele não veio e não disse, com sua voz macia, no interfone:

- Bom dia. É o carteiro. 


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