segunda-feira, 23 de maio de 2011

Soro caseiro


Não me impressiona o quão rápido passou o ano. 
Como o tempo agora urge. 
Se o caminho é longe e a estrada a fora é muro. 
Se tenho pernas longas e às vezes dou passos pequenos.

É inevitável.
O que me intriga é a entrega do corpo, a morosidade das células, o desleixo da melanina nos cabelos. 
A voz cansada das pupilas. 
O encurvamento da coluna diante da cumplicidade dos órgãos. 
O réquiem dos pulmões: uma sinfonia caduca, com tubas e violinos desesperados.
Envelhecer.
Como pode ser cruel assistir a passagem dos anos. 
Como pode ser banal comemorar a passagem dos anos. 
Da próxima vez, na noite de réveillon, não vou pular sete ondas. 
Nem me convencer de que agora é janeiro. 
Vou beber água do mar, cheirar a maresia, me impregnar do sal da vida.
O agora é aqui, esse grande instante. 
É a areia que abraça o pé, o vento que transtorna as palhas de coqueiro. É o que não se diz em fila do SUS. 
Hipocondria de júbilo e gozo. 
Vida sem prescrição ou fórmula. 
Posologia fora do lugar.
Vou fazer assim; 
que é pra ver se eu não envelheço, não espero, não paro. 
Não sinto perdão, não me compadeço. 
Nem pago salário ao relógio: pobre diabo, tic-tac gratuito!

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